Ser atropelado numa cidade é uma daquelas coisas que deve ser considerada inadmissível, mas infelizmente em Portugal isso ainda causou a morte a 76 pessoas em 2017 (mais 6 do que no ano anterior) situação que leva a esta intenção de generalizar o limite de velocidade de 30 km/h.
Embora seja completamente solidário com o desejo de evitar atropelamentos, penso no entanto que restringir as velocidades de 50 km/h para 30 km/h não irá ter qualquer impacto pelo simples facto que é daquelas medidas que praticamente nenhum condutor cumprirá – a não ser temporariamente, depois de ter apanhado uma multa e enquanto isso não lhe sair da memória (algo que provavelmente não demorará mais que um par de horas – ou até menos) para além de que desafio qualquer condutor a tentar manter-se dentro do limite de 30 km/h… e ver quanto tempo aguenta perante as buzinadelas e acusações de que está a entupir o trânsito.
Se actualmente não se consegue fazer cumprir o limite de 50 km/h, de pouco servirá anunciar que esse limite irá ser reduzido. Por outro lado, sem dúvida que é uma medida fácil (e potencialmente rentável, se as autoridades se dedicarem a uma “caça à multa”); muito mais fácil do que olhar para o problema no global e estudar onde e como isto tem acontecido, e se os atropelamentos não se deverão na sua maior parte ao mau planeamento das nossas estradas/passeios (e não vamos entrar na questão de potencialmente serem situações que obrigam/incentivam peões a atravessar estradas fora dos locais adequados).
Infelizmente parece-me que este flagelo só irá ser reduzido por conta dos veículos com capacidade para travarem automaticamente mesmo que o condutor vá distraído (felizmente já vai havendo alguns) e, a mais longo prazo, com os automóveis autónomos que – aí sim – se encarregarão de fazer cumprir todos os limites de velocidade que forem definidos (e seguramente obrigando a repensá-los, quando tal vier a acontecer).
Para terminar, também uma chamada de atenção para algo ainda mais indesculpável: de Janeiro a Novembro de 2017 registam-se 400 atropelamentos com fuga. Se atropelar alguém é mau, fugir de seguida torna isto muito pior. Talvez não fosse má ideia que no processo de preparação para se ter carta de condução, este tema fosse alvo de cuidado especial, indo até ao ponto de poder contar-se com uma simulação de atropelamento (com um “boneco”) para “sensibilizar” o futuro condutor(a) quanto ao procedimento a seguir caso se visse envolvido num. Mas pronto… investir na educação é daquelas coisas que não dá resultados no imediato… nem faz aumentar as receitas das multas.