Veículos mais caros são principais alvos de manipulação da quilometragem em Portugal

Em Portugal, a fraude do conta-quilómetros custa milhões de euros por ano aos compradores de automóveis usados.

Quem adquire um veículo com a quilometragem manipulada, sem o saber, não só acaba por pagar mais do que o valor real do carro, como também pode enfrentar avultadas despesas com reparações no futuro. Este problema não se limita a Portugal. É comum em muitos mercados europeus nos quais as pessoas se focam mais no preço do que noutros critérios.

Um estudo realizado pela carVertical, empresa de dados automóveis, revela que tanto os carros económicos como os de gama alta podem apresentar quilometragem adulterada, embora o grau de manipulação varie.

Veículos baratos também não escapam à fraude

Na maioria dos países analisados, os carros mais baratos costumam apresentar um maior risco de fraude do conta-quilómetros, mas em Portugal a situação é mais complexa.

Cerca de 2% dos carros abaixo dos 5.000 € verificados pela carVertical em Portugal apresentaram odómetros adulterados. Os veículos com preços entre 5.000 € e 10.000 € registaram uma taxa de fraude de 3,3%, seguidos pelos carros na faixa dos 10.000 €–15.000 €, onde 2,4% tinham a quilometragem alterada.

Este problema é comum em todos os países europeus. Os dados da carVertical mostram que, na Europa, 4,9% dos veículos usados em 2024 apresentavam quilometragem adulterada, sendo as vendas transfronteiriças particularmente problemáticas.

Em março de 2025, a carVertical estimou que a fraude da quilometragem custa aos países europeus cerca de 5,3 mil milhões de euros por ano – mesmo num cenário conservador. O impacto real pode ser ainda maior, já que muitos casos continuam por detetar. De acordo com esta investigação, a economia portuguesa perde cerca de 71,2 milhões de euros anuais devido à fraude do conta-quilómetros.

Provar que a quilometragem de um veículo foi falsificada é extremamente difícil. Nem todos os países trocam informações sobre veículos e muitos registos de quilometragem nunca chegam a ser armazenados eletronicamente. Tudo isto facilita a ocultação desta prática desonesta. A única maneira de confirmar a fraude da quilometragem é por meio de registos históricos da quilometragem”, explica Matas Buzelis, especialista da carVertical.

Ainda assim, quem compra um carro barato tende a focar-se em obter o preço mais baixo e acaba por ignorar passos importantes, como verificar o historial do veículo ou mandá-lo a uma revisão profissional. Os burlões aproveitam-se desta tendência, escolhendo veículos económicos, alterando o seu odómetro, e inflacionando o preço de venda.

Os compradores procuram sempre carros com pouca quilometragem. Mas, se não verificarem se o número é real, correm o risco de serem enganados e de pagarem muito mais do que deviam. Além disso, problemas de desgaste podem aparecer logo após a compra”, explica Matas Buzelis, especialista da carVertical.

Veículos de luxo representam perdas financeiras mais elevadas

Embora os burlões visem tanto carros baratos como de luxo, a fraude com veículos de gama alta pode causar danos financeiros maiores.

Embora os dados mostrem que a fraude de quilometragem afeta menos os carros de preços mais baixos (com uma taxa de fraude entre 2% e 3,3%), a taxa de fraude mais alta (4,9%) ocorre na faixa de preço entre os 40.000 € e 45.000 €, sendo que os carros de luxo acima dos 50.000 € também apresentam uma percentagem significativa de adulteração do conta-quilómetros (2,9%).

Alguns burlões visam veículos mais caros porque isso lhes permite obter maiores lucros. Quanto mais valioso for o carro, maior é o lucro que obtêm com a fraude de quilometragem. Em alguns casos, o comprador pode acabar por pagar milhares de euros a mais”, afirma Buzelis.

Como evitar veículos que tenham o conta-quilómetros adulterado

Embora os sites de anúncios estejam cheios de veículos com quilometragem adulterada, é possível evitá-los. A forma mais fácil é verificar o histórico do carro, especialmente os registos de quilometragem, que mostram claramente se as leituras do odómetro são precisas e quando podem ter sido manipuladas.

Os compradores devem ter cuidado com preços muito abaixo da média – esses veículos podem esconder defeitos ocultos. Muitas vezes, os burlões tentam pressionar os compradores a tomar uma decisão rápida, alegando que há outros interessados. Fechar negócio à pressa, sem verificar o historial, pode sair caro.

O interior do carro pode contar uma história diferente da que está no conta-quilómetros. Se o volante, a manete das mudanças, os pedais, ou os estofos estiverem muito gastos, é bem provável que o carro tenha feito mais quilómetros do que o anunciado. Quando a quilometragem parece baixa, mas o interior está com sinais de muito uso, convém estar atento”, avisa Buzelis.

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