A guerra entre taxistas (ou melhor dizendo, cooperativas?) e a Uber está longe de ter um fim à vista, e hoje tivemos mais uma manifestação que, independentemente da posição que se tome, é uma ridícula tentativa de impedir o inevitável.
A situação quase poderia ser considerada cómica, não fosse a propensão para alguns indivíduos acharem que a solução será dar navalhadas em pneus, e agredir motoristas e passageiros. O sector dos táxis em Portugal funciona mal (e porcamente, adicione-se) e penso que para isso bastará fazer três ou quatro viagens, e tirar as conclusões: e isto é algo que pode ser tão facilmente comprovado pela chegada ao aeroporto de Lisboa e pedir para ser levado até à gare do Oriente (por exemplo). No caso de um turista arrisca-se a ir dar uma volta por Sintra e Cascais; no caso de um português, arrisca-se a, no melhor caso, ir o caminho todo a ouvir as lamentações do taxista de que assim não pode ser, de estar tanto tempo na fila para depois fazer uma viagem curta; e no pior caso, a ir ser insultado pelo caminho.
Igualmente ridículo é ver acusações sem qualquer sentido, quer por parte de taxistas quer dos seus simpatizantes. Acusações que ignoram que as empresas de transportes que prestam o serviço à Uber já existiam antes da chegada da Uber, e por cá operavam há anos(!) sem nunca terem sido acusadas de ser ilegais (precisamente por serem legais!) São empresas de transportes que permitem a qualquer pessoa pedir um carro, para a vir buscar no local X à hora pedida, e para a levar até ao destino. A diferença é que isso era feito via telefone, e com a Uber passou a ser feito com uma app, que também simplifica os pagamentos (e com factura automática, refira-se, em vez dum talão rabiscado que por vezes nem tem valor fiscal) e permite classificar o condutor.
Isto é algo que os táxis poderiam ter feito há muito; e não apenas de forma parcial e tímida, quase experimental, que foi feita nalgumas zonas, e que grande parte das vezes não funcionava como devia. Agora, é algo que têm que fazer à pressa, e para o qual querem que seja o dinheiro dos contribuintes a pagar.
https://youtu.be/x21Er4yjv54
Em resposta, a Uber lança uma contra-ofensiva nas redes sociais contra a manifestação de amanhã, e onde publicou alguns vídeos que fazem o paralelismo com outras actividades, como por exemplo, se o email fosse proibido para proteger o envio das cartas tradicionais pelo correio. Vídeos que poderão ilustrar que, por mais que se tente, será impossível parar a evolução… mas que também é preciso relativizar.
Serviços como a Uber podem ser inevitáveis, mas também é preciso relembrar que não serão “perfeitos”. Nesta fase em que interessa captar o mercado a Uber pratica condições vantajosas para os condutores (no nosso caso, para as empresas que prestam estes serviços), mas assim que dominar o mercado passará a poder aplicar as regras “que bem lhe interessar”. Isso é algo que tem acontecido noutras cidades onde opera… mas que é algo que é transversal a toda e qualquer empresa capitalista, onde o objectivo é gerar o maior lucro possível.
A questão é que mesmo não sendo perfeita, para o consumidor o que interessa é ter o melhor serviço ao valor que acha mais justo (nem sempre o mais reduzido). E nesta fase, quem experimentar a Uber dificilmente achará que está a ser bem servido pelo serviço de táxis tradicionais – e essa sim, deveria ser a principal preocupação do sector, que mais parece empenhado em caçar licenças de táxis às viúvas para depois as revender a preços inflacionados, do que a oferecer um serviço de qualidade que nem sequer tivesse que se preocupar pela chegada da Uber ao nosso país.
Actualização: A Uber aproveitou o momento estratégico para revelar um estudo que revela que a maioria das pessoas (72%) nas áreas de operação da Uber em Portugal (Lisboa e Porto) quer a Uber a funcionar em Portugal, e apenas 9% se opõem.
Estudo da Eurosondagem realizado nas cidades de Lisboa e Porto
A grande maioria dos Lisboetas e Portuenses quer a Uber a operar em Portugal – 72% dos Lisboetas e Portuenses defendem a Uber em Portugal e apenas 9.8% se opõem
A Eurosondagem realizou um estudo para a Uber com o objetivo de avaliar a perceção dos consumidores relativamente ao papel da tecnologia na mobilidade urbana. Os dados foram recolhidos nos dias 25, 26 e 27 de Abril de 2016 através de entrevistas telefónicas, com uma amostra de 1025 inquiridos nos concelhos de Lisboa e do Porto. O erro máximo da amostra é de 3,06% para um grau de probabilidade de 95%.
Relativamente ao papel da tecnologia, 87% dos lisboetas e portuenses acreditam que a tecnologia e a inovação podem melhorar com o uso de tecnologia e inovação. Apenas 1% dos inquiridos discorda que a tecnologia e a inovação podem melhorar a mobilidade em Portugal.
No que diz respeito à legislação em vigor, 9,8% dos lisboetas e portuenses discordam que deve ser permitido que serviços como o que a Uber oferece possam existir também em Portugal, sendo que 72,3% concordam com a operação de plataformas como a Uber em Portugal, e 17,9% não sabem ou não respondem.
Dos 26,2% dos inquiridos que já experimentaram os serviços da Uber, 94,1% classificam a sua experiência com as viagens pedidas através da Uber como “Muito Boa” ou “Boa”.
O inquérito da Eurosondagem reforça a abertura dos portugueses à inovação e à tecnologia também na mobilidade urbana.